O Grande Ditador - Charles Chaplin + Discurso Final

O Grande Ditador - Charles Chaplin 


Postado em 4/11/2011 


The Great Dictator  -  EUA  -  1940

Direção - Charles Chaplin

Roteiro - Charles Chaplin

Gênero - comédia - guerra

Duração - 124 minutos

Elenco - Charles Chaplin, Jack Oakie, Paulette Goddard, Reginald Gardiner.

Sinopse - Adenoid Hynkel assume o governo de Tomainia. Ele acredita em uma nação puramente ariana e passa a discriminar os judeus locais. Esta situação é desconhecida por um barbeiro judeu, que está hospitalizado devido à participação em uma batalha na 1ª Guerra Mundial. Ele recebe alta, mesmo sofrendo de amnésia sobre o que aconteceu na guerra. Por ser judeu, passa a ser perseguido e precisa viver no gueto. Lá conhece a lavadora Hannah, por quem se apaixona. A vida dos judeus é monitorizada pela guarda de Hynkel, que tem planos de dominar o mundo. Seu próximo passo é invadir Osterlich, um país vizinho, e para tanto negocia um acordo com Benzino Napaloni, ditador da Bacteria.

Curiosidades  - Charles Chaplin teve a ideia de "O Grande Ditador" quando Alexander Korda, seu amigo, reparou na semelhança física existente entre Carlitos e Adolf Hitler. Posteriormente Chaplin descobriu que ele e Hitler tinham nascido com apenas uma semana de diferença, tinham a mesma altura e peso e ainda nasceram na pobreza e depois ascenderam. Chaplin resolveu usar esta semelhança para atacar Hitler quando soube da política de opressão racial que o governante estava implementando na Alemanha.
                      - A produção teve início em 1937, quando ainda não estava claro que o nazismo era uma ameaça real. Em 1940, quando foi lançado, não havia mais esta dúvida.
                      - Quando Chaplin anunciou a produção de "O Grande Ditador" a Inglaterra logo divulgou que iria banir o filme de suas salas de cinema. Na época o país buscava uma conciliação com o governo nazista. Na época em que o filme foi lançado a situação tinha mudando drasticamente, já que a Inglaterra e a Alemanha estavam em guerra. O filme foi então usado como veículo de propaganda anti-nazista.
                      - Quando soube que alguns executivos de estúdios queriam convencer Chaplin a desistir do filme, o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt enviou um representante, Harry Hopkins, para encorajá-lo a fazer o filme.
                      - Foi inteiramente financiado por Charles Chaplin e tornou-se seu maior sucesso de bilheteria.
                      -  A produção durou 539 dias.
                      - É o último filme em que Charles Chaplin usa as vestimentas de Carlitos.
                      - Segundo documentários da época, Charles Chaplin ficou cada vez mais desconfortável para interpretar Hitler à medida que tomava conhecimento de seus atos na Europa.
                      - A cena em que Chaplin brinca com um globo representando o planeta foi criada em 1928, para um vídeo caseiro feito pelo ator.
                       -  A invasão da França por parte dos alemães inspirou Charles Chaplin a incluir o famoso discurso final de "O Grande Ditador".
                       - Chaplin pisca menos de dez vezes durante todo o discurso final, que dura cinco minutos.
                       - A personagem de Paulette Goddard, Hannah, recebeu este nome em homenagem à mãe de Chaplin.
                       - Durante as filmagens o relacionamento entre Charles Chaplin e Paulette Goddard foi se deteriorando cada vez mais. Em 1942 ele chegou a apresentá-la como sua esposa em um evento realizado em Nova York, mas meses depois já estavam divorciados.
                       - Todas as supostas falas em alemão foram improvisadas.
                       - A linguagem usada nos sinais, pôsters e no gueto judeu é o esperanto, criado em 1887 por L.L. Zamenhof.
                       - Nos créditos finais pode ser lido "qualquer semelhança com o ditador Hynkel e o barbeiro judeu são puramente incidentais".
                       - O ator Douglas Fairbanks visitou os sets de filmagens em 1939 e riu sem parar de uma cena que estava sendo rodada. Esta foi a última vez que Chaplin o viu, já que Fairbanks faleceu uma semana depois.
                       - Lançado 13 anos após o fim da era muda no cinema, é o primeiro filme inteiramente falado e sonorizado feito por Charles Chaplin.
                       - Após o término da 2ª Guerra Mundial, quando os horrores do nazismo foram divulgados, Chaplin declarou que, se tivesse conhecimento do ocorrido antes, jamais teria feito graça baseado em tamanha insanidade homicida.
                       - Não é a primeira sátira anti-nazista feita no cinema. Nove meses antes os Três Patetas lançaram "You Nazty Spy!" (1940), que detém este feito.
                       - Adolf Hitler baniu "O Grande Ditador" da Alemanha e de todos os países que estavam sob seu controle. Entretanto, por curiosidade mandou vir de Portugal uma cópia do filme, para que pudesse assisti-lo. Não se sabe qual foi sua reação após vê-lo.
                       - Um grupo de resistência dos Balcãs conseguiu uma cópia de "O Grande Ditador" vinda da Grécia, durante a 2ª Guerra Mundial. O filme foi exibido em um cinema militar alemão, em substituição à uma comédia, sem que o público soubesse. Quando se deram conta do filme que estavam assistindo, parte dos soldados alemães disparou em direção à tela e outra simplesmente deixou o local.
                       - "O Grande Ditador"foi banido na Espanha até a morte do ditador Francisco Franco, em 1975.
                       - Na Itália todas as cenas em que a esposa de Napaloni é vista foram cortadas, em respeito à viúva de Benito Mussolini, Rachele. A versão completa apenas pôde ser exibida em 2002.
                       - O general Dwight D. Eisenhower pediu cópias dubladas em francês de O Grande Ditador, para exibi-las na França após a vitória dos aliados sobre Hitler.
                       -  Charles Chaplin aceitou o convite para repetir, no rádio, o famoso discurso final de "O Grande Ditador".
                       - O Grande Ditador foi indicado em cinco categorias no Oscar, mas perdeu em todas. Esta foi a primeira premiação em que os vencedores foram mantidos em sigilo até a divulgação na cerimônia.



Comentário - Mais uma obra-prima de Chaplin, uma celebração à vida e uma crítica aos tiranos. Além de muito ousado para a época, o filme é profético, uma vez que quando começou a filmar, a Segunda Guerra não havia começado. Com cenas inesquecíveis como Chaplin brincando com o globo terrestre, a sátira a Mussolini e o emocionante discurso final.

Nota - 10



                             
                           





O Discurso Final de "O Grande Ditador"



Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.  A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Meu Ódio Será Sua Herança - Sam Peckinpah + William Holden

Varda por Agnès - Agnès Varda

Feios, Sujos e Malvados - Ettore Scola + Biografia

Drácula de Bram Stoker - Francis Ford Coppola

Era Uma Vez no Oeste - Sergio Leone + Biografia + Enio Morricone

O Último Tango em Paris - Bernardo Bertolucci

Sobre Meninos e Lobos - Clint Eastwood

Os Sonhadores - Bernardo Bertolucci

O Magnífico - Philippe de Broca

Gata em Teto de Zinco Quente - Richard Brooks