A Rotina Tem Seu Encanto - Yasujiro Ozu + Minimalismo Asiático

A Rotina Tem Seu Encanto - Yasujiro Ozu


Postado em 20/1/2012 

                             

Sanma no Aji  -  Japão  -  1962

Direção - Yasujiro Ozu

Roteiro - Kôgo Noda, Yasujiro Ozu.

Gênero - drama - comédia

Duração - 112 minutos

Elenco - Chishu Ryu, Shima Iwashita, Keiji Sada, Mariko Okada, Teruo Yoshida.

Sinopse -  O viúvo Shuhei Hirayama leva uma vida tranqüila graças a seus filhos Kazuo e Michiko. Durante uma festa com seus antigos colegas e seu professor Sakuma, descobre que a filha deste se tornou amarga e triste por nunca ter se casado para poder ficar tomando conta do pai. Isso leva Shuhei a pensar sobre sua própria filha, que já está com 24 anos, e começa a arquitetar um plano para casá-la.

Curiosidades - É o último filme de Yasujiro Ozu.

Comentário - Ozu fez um sensível retrato do amor entre pai e filha, sempre usando seus recursos minimalistas como a câmera estática e num nível abaixo do comum. O filme faz também uma reflexão sobre a velhice e sua consequente solidão. Um filme de momentos melancólicos mas sempre retratado com bom humor. O cinema japonês é reconhecido por sua enorme sensibilidade e Ozu era o mais sensivel entre seus grandes mestres.

Nota - 9,5



                                                                                           





Minimalismo Asiático



Grande mestre japonês do shomin-geki, filmes sobre o cotidiano de pessoas comuns, Yasujiro Ozu morreu sem deixar herdeiros de sua singular estética minimalista. Outros grandes nomes do shomin-geki foram Miko Naruse e Heinosuke Gosho. Porém, na virada para o século XXI, sua obra inspirou o trabalho de novos cineastas asiáticos.
O cinema japonês é dividido em dois gêneros; o jidai-geki (filmes de época) e gendai-geki (filme em contexto contemporâneo), onde deriva o shomin-geki, que foca a vida familiar das classes média e baixa. Yasujiro Ozu foi o expoente desse subgênero. Todos seus filmes pós-guerra tratam de relações da família de classe média contadas por meio de um olhar melancólico. Ozu não se interessava por tramas, mas, sim, pelo jogo entre os personagens. Ele usava o mínimo de cenas externas e dispensava fades (transição gradativa de imagens, em que uma se apaga e outra surge). A câmera raramente se movia, mantida fixada a um metro do chão, no nível dos olhos dos atores sentados no chão. Suas longas tomadas eram pontuadas por planos de externas e intensificados pela música.
Embora menos ortodoxos, muitos dos diretores asiáticos mais jovens, seguiram os princípios minimalistas de Ozu. "Café Lumiere"(05) do taiwanês Hou Hsiao-Hsien e "Andando"(08) do japonês Hirozaku Kore-Eda, são filmes homenagem ao mestre. Em sua maioria, esses discípulos de Ozu privilegiam a simplicidade na superfície para ocultar a complexidade estrutural, embora suas narrativas tendam a ser mais intricadas e elípticas.
Assim como mostram "Três Tempos"(05), de Hsia-Hisen, e "Em Busca da Vida"(06), do chinês Jia Zhang Ke, momentos fundamentais do enredo acontecem fora do enquadramento ou entre duas cenas estáticas, deixando ao público a tarefa de deduzir a ação. Não há lugar para qualquer clímax dramático. Os relacionamentos são examinados mais pelo não-dito do que pelo que é expressado. Há poucos close-ups e o ritmo lento é deliberado.
Apesar de virem de diferentes países, Hong Sang Soo (Coréia do Sul), Edward Yang (Taiwan), Tran Anh Hung (Vietnã), Apichapong Weerasethakul (Tailândia) e Tsai Ming-Liang (Malásia), os minimalistas asiáticos podem até divergir em preocupações e estilos, mas compartilham da preferência pelo tema do fracasso no relacionamento amoroso e da adesão ao recurso das longas tomadas de cena.
Outras obras-chave: "A Plataforma"(00), Jia Zhang Ke  -  "As luzes de Um Verão"(00), Tran Anh Hung  -  "As Coisas Simples da Vida"(00), Edward Yang  -  "Que Horas São Ai?"(01), Tsai Ming-Liang  -  "Febre Tropical"(04), Apichapong Weerasethakul  -  "A Mulher é o Futuro do Homem"(04), Hong Sang Soo.





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